Se a pandemia evidenciou como os canais digitais foram fundamentais para que as pessoas se comunicassem e mantivessem um elo com seus grupos de relacionamento, ela também mostra como a comunicação seguirá em transformação. “Nós precisamos ser muito mais cirúrgicos na nossa comunicação”, diz o jornalista Jeferson de Souza, professor da disciplina Seminários do MBA Master em Neuroestratégia e o Pensamento Transversal®, da Fundação Proamb e Esic Business & Marketing School.
Neste aspecto, a neurocomunicação – matéria da qual ele é professor em cursos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) – ocupa um significativo papel. Isso porque, além de se preocupar com os aspectos clássicos da comunicação – emissor, receptor, código, canal, conteúdo e contexto –, ela aprofunda outros meios que influenciam sua compreensão, ligados a fatores biológicos, sociológicos e psicológicos. “A neurocomunicação é um avanço da comunicação, com complexidades muito maiores. Sempre digo que comunicação não é o que você diz, mas o que o outro entende, e esse é o segredo, porque o entendimento é influenciado por ene situações”, observa.
Do campo biológico, por exemplo, Souza cita o ciclo circadiano de cada um, que baseia os padrões de atividades do organismo entre o dia e a noite. Assim, uma reunião às 7h pode ser desastrosa para quem tem um ritmo mais dinâmico só a partir das 10h. “Essa pessoa vai estar de corpo presente e alma ausente. É papel do líder perceber esse tipo de situação e entender como “funcionam” as pessoas. Por isso, a biologia também influencia na comunicação”, analisa o professor.
Como aspectos sociológicos, o professor cita a epigenética, ou seja, o meio que influencia a biologia. “Nós temos propensões genéticas, mas o meio em que estamos pode tanto silenciar como ativar nossos genes, e isso também influencia o jeito que nos comportamos e comunicamos”, diz. Entre os fatores psicológicos, ele exemplifica com os traumas que cada um carrega da vida, as questões da infância ou as amarras que cada indivíduo tem dentro de si. “A neurocomunicação contextualiza tudo isso e apresenta uma forma mais eficiente de comunicação”, explica.
Como se percebe, é amplo o campo em que a neurocomunicação se apoia. Isso inclui, também, a comunicação não verbal. “Ela é extremamente importante para “ler” o outro, porque às vezes a pessoa diz que está feliz com uma cara triste, diz que gostou da ideia com uma postura que entrega que não é verdade”, salienta.
Equipamentos utilizados na neurociência estão ajudando cada vez mais a identificar o que realmente as pessoas querem transmitir, uma metodologia muito utilizada no campo do marketing aplicado a processos de consumo. “Ela apresenta um estímulo para as pessoas e faz uma leitura. Isso é muito eficaz, porque muitas vezes, no meio de um comercial, a pessoa relata que gostou de determinado momento, mas a curva de valência, que equipamentos acusam, como o grau de dilatação da pupila, mostram que o momento de maior empolgação, na verdade, foi outro”.
Todas essas ferramentas compõem um panorama muito mais próximo da realidade do que, verdadeiramente, as pessoas querem ou pretendem comunicar. Sendo assim, têm grande poder em qualquer tipo de ambiente, inclusive, o dos negócios. “Quem tem essa capacidade, conhecimento e estrutura para se comunicar de modo mais eficaz e de entender a comunicação do outro, fecha negócios, interage nesse mundo com muito mais resultados”, diz.
A comunicação, portanto, é instrumento para irradiar e também para absorver conhecimento. Assim, ela é fundamental para se construir as bases para tomar uma decisão, grande propósito do MBA Master em Neuroestratégia e o Pensamento Transversal®. “A tomada de decisão está ligada ao nosso nível de compreensão das coisas”, diz Souza.
Para ele, a tomada de uma decisão assertiva precisa, antes, de uma tomada de consciência. É preciso conhecer as questões a serem tratadas, não levar as emoções para a mesa de negociação, domar essas emoções e compreender suas dinâmicas, assim como entender suas correlações. Assim, a neurocomunicação aperfeiçoa esses processos, sendo possível identificar até o momento de adiar uma tomada de decisão num estado mais emocional para não representar um risco para a organização. “A busca da neurocomunicação é trazer uma maturidade e uma tomada de consciência para que, a partir delas, se possa tomar as melhores decisões”, ensina Souza.